por Roberto Pompeu de Toledo 27/10/2010
Ninguém sabia onde ficava o Jaçanã e nunca houve um trem das 11 para aquelas bandas, mas, desde que Adoniran Barbosa compôs, em 1964, sua famosa canção, o Jaçanã virou um bairro paulistano nacionalmente conhecido, e o trem das 11 a mais célebre condução que ou se toma ou só se consegue voltar para casa na manhã seguinte. A primeira coisa engraçada sobre João Rubinato (1912-1982), filho de imigrantes do Vêneto nascido em Valinhos, é por que alguém que se chama João Rubinato vai querer adotar o nome artístico de Adoniran Barbosa. A segunda é o nonsense que embala canções como ‘Aqui Geralda’ (ou Gerarda), que começa por lamentar que “Geralda saiu de casa, onde será que Geralda foi parar?” e termina por proclamar:
“Você gosta de salsicha com mostarda Aqui, Geralda, aqui, Geralda”.
Adoniran Barbosa é do tempo do rádio. Estreou como cantor, em programas de calouros, e evoluiu como ator, em programas humorísticos. Mas foi como compositor que cantou, descreveu e interpretou São Paulo como nenhum compositor popular. Seus motivos são as ruas, praças e bairros, e seus personagens os tipos da cidade. Sobretudo, Adoniran captou nas ruas um “paulistanês” que nenhum habitante da cidade deixará de reconhecer como característico:
“O Arnesto nos convidou
Prum samba, ele mora no Brás,
Nós fumo, não encontremo ninguém.
Nós voltemo cuma baita duma reiva,
Da outra vez, nóis num vai mais”.
A língua que Adoniran caricaturou nas canções mistura o caipira com o italianado, duas vertentes centrais da expressão popular na cidade. A São Paulo que conheceu era um caldeirão de influências que se refletia na língua do povo. Ele próprio nascido no interior, e só aos 22 anos estabelecido na capital, talvez por isso tivesse desenvolvido um ouvido especial para captar o som das ruas. O mesmo puro paulistanês do 'Samba do Arnesto' ele usa para contar a história contida em ‘Um Samba no Bexiga’:
“Domingo nós fumo num samba no Bexiga,
Na Rua Major, na casa do Nicola.
A mesa não deu conta, saiu uma baita duma briga.
Era só pizza que avuava junto com as brachola”.
“Praça da Sé, Praça da Sé. Hoje você é Madame Estação da Sé”.
“Saudosa maloca, maloca querida,
Que dim donde nóis passemo dias feliz da nossa vida”.
‘Saudosa Maloca’ reflete a cidade dos migrantes, juntados em precárias moradias. ‘Trem das Onze’ retrata a desolação de um tipo assoberbado que, entre o trabalho e a necessidade de voltar para casa, mal tinha tempo para a namorada. Tipos assoberbados existiam muitos, no tempo de Adoniran, e continuam existindo, numa cidade com fama de ser a mais devota das filiadas à religião do trabalho. O da música, para piorar, era filho único e a mãe não dormia enquanto não chegasse. De certa forma, Adoniran também foi um filho único, no sentido de que inventou um samba paulistano como ninguém antes nem depois.
http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2188/veja-sao-paulo-25-anos-adoniran-barbosa - Acessado em 08/12/2010
Análise do grupo sobre os níveis de linguagem no artigo:
- Os níveis de linguagem estão relacionados com uso da fala e da escrita, onde a comunicação é concluída na sua concordância e entendimento.
Há vários tipos de linguagem: a escrita, que segue a norma gramatical e a falada que é mais desprendida de regras sendo suscetível a transformações.
Os níveis de linguagem estão presentes na sociedade de formas variadas podendo ser culta ou popular, e neste artigo encontramos esta variação, decorrente de texto jornalístico e das citações de letras de música do compositor Adoniran Barbosa, que apresenta uma linguagem popular.
Grupo: Ana Luiza, Gessica Pereira, Luana, Margareth, Sandra Reis e Tania Camargo
Meninas, muito bom! Adoniran é "tudo de bom"...
ResponderExcluirParabéns!